A Hipnose na Medicina Dentária
Colaboração: Dr. António Korrodi Rito e Carla Souza (Portugal) – www.treinomental.com

A Hipnose Clínica Condicionativa é usada em múltiplas situações, no tratamento de um problema com apenas uma causa ou com várias causas.
Para além das vantagens de uma “ferramenta” que não sendo fármaco-invasiva, permite um tratamento com resultados surpreendentes, a hipnose clínica consegue atuar ao mesmo tempo em várias áreas que estão afetadas.
A Medicina Dentária tem ao seu alcance esta poderosa “ferramenta”. São muitas as áreas em que podemos tirar partido da hipnose clínica:

O primeiro contato:
Logo durante a primeira consulta é possível avaliar o estado psicológico do paciente e estabelecer o primeiro “rapport”. Muitas das dores que nos aparecem no consultório são de origem psicológica, e aqui deixo alguns exemplos:
1- Queixas de dores na língua, na zona da base ou lateralmente, acompanhadas de sensação de ardor ou picadas. Em muitos destes casos, verificamos que existia alguém na família com problemas graves na cavidade oral, e o paciente psico-somatizou a doença. Noutros casos, é o próprio estado mental que carregando uma elevada dose de ansiedade, causa esses problemas.
2- Dores de dentes sem causa aparente.

Normalmente a dor desaparece ou após uma conversa em que se explica a situação ou nalguns casos ainda antes de se sentar na cadeira a dor desaparece.

Sabendo que o escape da ansiedade é feito em grande parte pela boca, através do bruxismo, contração muscular etc, é de todo importante avaliar o paciente e sugerir a hipnose clinica condicionativa como forma de controlar estes problemas.

Os problemas:
A ansiedade faz parte do comum dos mortais. Quando não se consegue controlar, ela desperta alterações a vários níveis.

Um dos problemas que mais vemos hoje em dia são as dores na Articulação Temporo-Mandibular (ATM), acompanhado ou não de estalidos, limitação da abertura da boca, bloqueios ou luxação. A ansiedade é um dos factores que mais causa este distúrbio das ATMs. Outros estão relacionados com problemas de coluna, tipo de alimentação, má posição dentária, dentes do siso em erupção, etc.

De dia para dia vemos cada vez mais crianças que rangem os dentes. Esta é uma forma de escape da ansiedade. Não é sem mais que se ouve dizer “estava com raiva que até cerrava os dentes”.
Os vômitos aparecem sobretudo nas crianças, causado pelo medo e ansiedade. Alguns adultos também apresentam tendência ao vômito, sobretudo quando os procedimentos são mais extensos na zona do palato como por exemplo para tirar as impressões para fazer moldes. A hipnose de indução é a técnica de eleição nas crianças, conseguindo-se reduzir a ansiedade, controlar a respiração e diminuir a frequência cardíaca. Com a hipnose também se consegue fazer com que o sabor que a criança sente durante a moldagem seja mais agradável.
Já no adulto, por vezes, é necessário mais que uma sessão completa (1h) de forma a estabelecer uma ancoragem que permita a indução rápida já no consultório.

O sabor desagradável de alguns produtos usados em Medicina Dentária são normalmente bem controlados pelos adultos mas não aceites pelas crianças. A Hipnose também pode ser usada nestes casos, transformando o mau sabor num sabor mais agradável, de forma a controlar a inquietude e irritabilidade da criança.

O medo das agulhas ainda aparece hoje em dia, embora cada vez com menos frequência. Aqui a hipnose tem um papel fundamental. Normalmente fazemos 2 a 3 sessões completas (cerca de 1h cada) fora do consultório dentário, com o estabelecimento de bloqueio do emocional causar do medo por agulhas. No dia da extração é feita hipnose de indução instantânea, mediante acionamento de chave mental. Os resultados obtidos são surpreendentes. O caso mais grave que por nós passou, foi o de um rapaz com 18 anos que fugia sempre que ia ao hospital ou quando tinha que tomar vacinas. Tinha um medo enorme de agulhas a ponto de desmaiar. Como ele tinha que extrair os quatro dentes do siso, optamos por uma abordagem através de hipnose. Na primeira consulta estabeleceu-se um “rapport” de forma muito fácil, aproveitando o fato de ele praticar desportos radicais e explicando a ajuda preciosa que íamos dar para uma situação de emergência, que pudesse ocorrer um dia. Decidimos fazer 3 sessões completas. Logo no final da primeira sessão o rapaz virou-se para o pai a dizer que já podia marcar a consulta para extrair os sisos. Todavia foi feita mais uma sessão. O rapaz considerou que estava bem para extrair os dentes do siso pelo que se marcou a consulta. O primeiro dente foi extraído sem qualquer problema, e o relaxamento foi tão grande que era como se estivesse deitado na sua cama a ver um programa animado de televisão. Os outros 3 dentes do siso foram extraídos sem qualquer problema.

A cirurgia de dentes inclusos, sisos, quistos, colocação de implantes, etc, aparece na Medicina Dentária como sendo dos tratamentos mais invasivos, e por consequência os mais traumatizantes e com pós-operatório mais difícil. A Hipnose Condicionativa tem aqui um papel importante em várias vertentes. No controlo emocional antes da cirurgia, no controlo da dor durante e após o tratamento, e na recuperação de todos os tecidos no pós-operatório. De salientar que o controlo da hemorragia também pode ser feito, bem como da salivação. Ainda há pouco tempo, tivemos uma paciente que 4 dias após uma cirurgia de transplante gengival, retirado da zona do palato, apareceu de urgência com uma forte hemorragia. Só para se ter uma ideia, a boca enchia totalmente de sangue em menos de 5 segundos, saindo o sangue em esguicho, por rompimento de uma arteríola ramo da artéria palatina. Neste caso específico recorremos a hipnose, controlando de imediato a ansiedade, seguido da frequência cardíaca, e por fim do sangramento. Com uma simples técnica de imaginar uma torneira aberta num determinado ponto onde íamos tocar e obrigar a fechar essa torneira que iria estancar a hemorragia, conseguiu-se com sucesso controlar o sangramento em muito pouco tempo, e proceder à colocação de hemostáticos e sutura. Foi ainda explicado ao paciente para usar essa técnica se voltasse a acontecer em casa, situação que veio ainda a acontecer durante a noite, mas com menor intensidade.
O pós-operatório depois de sessões de Hipnose Condicionativa é muito mais rápido, menos doloroso, e o paciente restabelece-se em muito menos tempo do que sem hipnose.
Em determinados casos é possível efetuar procedimentos cirúrgicos sem qualquer tipo de anestesia.

Os hábitos nocivos e as para-funções levam às más oclusões (dentes e maxilares tortos) e ao desgaste do esmalte (bruxismo). Muitos são os hábitos nocivos que encontramos na Medicina Dentária, desde: o biberão, chupeta; dedo; fralda; chupar a língua; morder os lábios; roer as unhas; etc. A Hipnose Clínica Condicionativa tem aqui uma área que é fascinante pois conseguimos na maioria das vezes com uma simples sessão eliminar estes problemas.
Como se sabe, estes hábitos resultam de causas subjacentes que incluem a ansiedade, medo, fobias, falta de auto-estima, psicossomatização, etc.
Como regra geral trabalhamos com a hipnose condicionativa e métodos de compensação (ganhos). Os casos mais complicados estão relacionados com o chupar no dedo. Como se costuma dizer, “o dedo está sempre à mão”. O método que se tem revelado mais eficaz consiste na sessão de hipnose com condicionamentos num objecto pessoal ou algo que a criança goste, de forma a poder mexer durante a noite (método de substituição). Assim a criança vai ter um mecanismo de satisfação compensatório, e terá a mesma satisfação ao tocar no objecto com os dedos.

Fonte: Instituto Brasileiro de Hipnologia – www.institutohipnologia.com.br